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Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize conta desafios de ser mulher ensinando robótica

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize conta desafios de ser mulher ensinando robótica


A Professora Débora Garofalo esteve no CES, na última quarta-feira, 4 de março, ministrando aula magna “Educação como Caminho da Transformação”. Antes do evento, ela conversou com a Assessoria de Comunicação sobre os desafios enfrentados no percurso. Leia abaixo:

Em 2015, quando era professora de Língua Portuguesa da EMEF Almirante Ary Parreiras, em São Paulo, Débora teve a ideia de começar a transformar o lixo das ruas em robótica. No ano passado, ela se tornou a primeira mulher latino-americana a ser finalista do Global Teacher Prize, considerado o “Nobel da educação”. Mas para isso, precisou derrubar uma série de barreiras: a desmotivação vinda dos colegas de trabalho, a falta de uma literatura que abordasse robótica pela área da sucata, a crença dos alunos e alunas de que aula de tecnologia era “coisa de escola particular” e também o machismo dentro e fora da sala de aula.

Lugar de mulher é onde ela quiser

“Quando eu dei início, em 2015, não havia nenhuma literatura sobre robótica pela área da sucata. Eu comecei a conversar com meus colegas e era muito claro eles me trazerem que eu estava fazendo artesanato. E ali eu senti o primeiro preconceito, porque mesmo eu provando cientificamente que era um trabalho de robótica - por ter todo o processamento que dá a caracterização de robótica - por que eles estavam falando que era artesanato?”, conta. Mais tarde, após começar a participar de eventos de software livre, se deparou com uma maioria masculina ocupando aquele espaço. “Eu via que a gente [mulher] precisa explorar mais essa área”. 

Na sala de aula, a professora teve que desmistificar o uso da tecnologia ao passo que foi igualando os gêneros, permitindo que as meninas ocupassem aquele espaço. “Os meus alunos meninos me testavam muito para saber o que eu conhecia, ao mesmo tempo em que eles afastavam as meninas do trabalho de robótica e elas também tiveram que construir esse espaço junto comigo”.

Para quebrar essas barreiras, Débora usou muito diálogo: “foi um trabalho de mostrar para eles que nós podemos aprender juntos, que em nenhum momento eu era aquela professora impositiva e que eu ia ensinar mas também estava ali disposta a aprender com eles. Foi muito bacana ver que o lugar de mulher é onde ela quiser e que elas [as meninas] assumiram essa parte de fazer robótica, de produzir seus protótipos e de concorrer com os meninos”. Hoje, o resultado, segundo Débora, é ver alunas que sonham seguir na área de tecnologia e ciências.“É importante a gente ressaltar que esse trabalho precisa nascer na educação básica e ser fomentado longo da vida”, completa.

Uma pesquisa da UNESCO, publicada em 2018, mostra que apenas 28% dos pesquisadores em todo o mundo, nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, são mulheres. E só 17 receberam o Prêmio Nobel de Física, Química ou Medicina desde Marie Curie, em 1903. Já os homens somam 572 prêmios, nas mesmas áreas do conhecimento. Ainda de acordo com a pesquisa, construções sociais criadas desde cedo e reforçadas pelas famílias e pelas escolas, são responsáveis pelo afastamento das meninas das ciências.

Educação como forma de solucionar problemas reais

Durante a aula magna, que lotou o Teatro Academia e foi acompanhada por centenas de pessoas através de transmissão simultânea nas redes sociais, Débora abordou a educação como caminho da transformação. De acordo com ela, ouvir dos alunos que eles acreditavam não ter capacidade para aprender robótica e que "isso era coisa de escola particular”, além de causar profunda dor, a incentivou a transmitir não apenas o conhecimento de tecnologia, mas a ensinar as crianças a interagir com a comunidade e mudar a vida delas.

O caminho que ela encontrou para isso foi o Projeto Robótica com Sucata. Com ele, a professora ensinou aos alunos como solucionar problemas reais, como o lixo das ruas do bairro Villa Babilônia, em São Paulo, que se transformou em carrinhos, ventiladores, robôs... E mais do que isso, alunas e alunas mudaram a percepção que tinham sobre si.

Além de o trabalho ter resultado na indicação para o Global Teacher Prize, Débora, junto com cerca de mil alunos, recolheu, nos últimos quatro anos, cerca de uma tonelada de lixo das ruas. Hoje, ela atua na Secretaria de Educação de São Paulo para replicar o modelo para 2,5 milhões de alunos.

Estudantes como agentes da transformação

Para as graduandas e graduandos do CES, a mensagem de Débora Garofalo é não desistir diante dos obstáculos e ter resiliência: “Eu queria falar que vocês realmente vão enfrentar muitas dificuldades. Na minha carreira inteira enfrentei dificuldades e enfrento até hoje. É preciso a gente persistir, ter resiliência. E continuar, sabendo que o caminho não é fácil, mas que estamos em prol de algo maior. Hoje, vocês são agentes da transformação e estão em um lugar privilegiado, que é o de estudar, vivenciar essa educação, e poder devolver isso para a sociedade. Vocês vão encontrar diversas dificuldades, mas sejam fortes, persistam e lutem para modificar o que está posto, porque vocês são o nosso futuro”, afirma.

A aula magna aconteceu no dia 4 de março, no Teatro Academia (R. Halfeld, 1179 - Centro). Para assistir ao vídeo, clique aqui. A aula inicia aos 48min e 47seg.




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